quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida SJ


Dom Luciano Pedro Mendes de Almeida SJ 
(Rio de Janeiro, 5 de outubro de 1930 — São Paulo, 27 de agosto de 2006)
Foi um religioso jesuíta e bispo católico brasileiro. Foi o quarto arcebispo de Mariana.

Família
Dom Luciano era filho do Conde Cândido Mendes de Almeida Júnior e Emília de Melo Vieira Mendes de Almeida (segundos Condes Mendes de Almeida); neto do primeiro Conde Mendes de Almeida; bisneto do jurista e senador do Império Cândido Mendes de Almeida; e, por este, trineto de Fernando Mendes de Almeida e tetraneto de João Mendes de Almeida. Também era trineto de Honório Hermeto Carneiro Leão, Marquês de Paraná. Dom Luciano era irmão do acadêmico Cândido Antônio Mendes de Almeida, terceiro Conde Mendes de Almeida e reitor da Universidade Cândido Mendes.
Estudos e vida religiosa:
Fez seus primeiros estudos no Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro (1941-1945) e no Colégio Anchieta, em Nova Friburgo (1946-1950).
Ingressou na Companhia de Jesus no dia 2 de março de 1947. Realizou estudos na Casa de Formação dos Jesuítas em Nova Friburgo (1951-1953) e na Pontifícia Universidade Gregoriana, em Roma (1955-1959). Fez seu doutorado em Filosofia na Universidade Gregoriana (1960-1965).
Sua ordenação presbiteral deu-se a 5 de julho de 1958, em Roma. Emitiu seus votos definitivos na Companhia de Jesus no dia 15 de agosto de 1964.
Atividades antes do episcopado
Foi professor de Filosofia (1965-1972); instrutor da terceira provação na Companhia de Jesus (1970-1975); membro da diretoria da Conferência dos Religiosos do Brasil (1974-1975).
Episcopado:
Foi nomeado pelo Papa Paulo VI, no dia 25 de fevereiro de 1976, bispo auxiliar de São Paulo e titular de Turris in Proconsulari. Sua ordenação episcopal deu-se a 2 de maio do mesmo ano, pelas mãos do cardeal Dom Paulo Evaristo Arns, OFM, Dom Clemente José Carlos de Gouvêa Isnard OSB e Dom Benedito de Ulhôa Vieira.
Exerceu a função de bispo auxiliar na Arquidiocese de São Paulo e responsável pela Pastoral do Menor no período de 1976 a 1988.
O Papa João Paulo II o nomeou arcebispo de Mariana no dia 6 de abril de 1988.
Na Conferência Nacional dos Bispos do Brasil foi secretário-geral no período de 1979 a 1986, e presidente de 1987 a 1995. Na Cúria Romana foi membro da Comissão Pontifícia Justiça e Paz (1996 – 2000) e membro da Comissão do Secretariado para o Sínodo (1994-1999). Foi vice-presidente do Conselho Episcopal Latino-Americano (1995-1999); em 1997 foi eleito delegado da CNBB à Assembléia Especial do Sínodo dos Bispos para a América por eleição da assembléia da CNBB e confirmado pelo Papa João Paulo II (1997).
Figura de destaque do episcopado brasileiro, atuou na defesa dos direitos humanos e no serviço aos pobres.
LemaIn nomine Jesu (Em nome de Jesus).

Chico Mendes











Francisco Alves Mendes Filho, mais conhecido como Chico Mendes, (Xapuri, 15 de dezembro de 1944 — Xapuri, 22 de dezembro de 1988) foi um seringueiro, sindicalista e ativista ambiental brasileiro. Sua atividade política visada à preservação da Floresta Amazônica e lhe deu projeção mundial.

Em 1981 Chico Mendes assume a direção do Sindicato de Xapuri, do qual foi presidente até sua morte. Candidato a deputado estadual pelo PT nas eleições de 1982, não consegue se eleger.

de um capataz de fazenda, possivelmente relacionado ao assassinato do presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Brasiléia, Wilson Sousa Pinheiro.

Acusado de incitar posseiros à violência, foi julgado pelo Tribunal Militar de Manaus, e absolvido por falta de provas, em 1984.

Liderou o 1º. Encontro Nacional dos Seringueiros, em outubro de 1985, durante o qual foi criado o Conselho Nacional dos Seringueiros (CNS), que se tornou a principal referência da categoria. Sob sua liderança a luta dos seringueiros pela preservação do seu modo de vida adquiriu grande repercussão nacional e internacional. A proposta da "União dos Povos da Floresta" em defesa da Floresta Amazônica busca unir os interesses dos indígenas, seringueiros, castanheiros, pequenos pescadores, quebradeiras de coco babaçu e populações ribeirinhas, através da criação de reservas extrativistas. Essas reservas preservam as áreas indígenas e a floresta, além de ser um instrumento da reforma agrária desejada pelos seringueiros.

Em 1986 participa das eleições daquele ano pelo PT-AC candidato a Deputado estadual ao lado de outros candidatos entre eles Marina Silvapara Deputada federal, José Marques de Sousa(o Matias) para Senado, e Hélio Pimenta para Governador, não sendo nenhum deles eleito.

Mendes foi acusado por fazendeiros e políticos locais de "prejudicar o progresso", o que aparentemente não convence a opinião pública internacional. Alguns meses depois, Mendes recebe vários prêmios internacionais, destacando-se o Global 500, oferecido pela ONU, por sua luta em defesa do meio ambiente.

Ao longo de 1988 participa da implantação das primeiras reservas extrativistas criadas no Estado do Acre. Ameaçado e perseguido por ações organizadas após a instalação da UDR no Estado, Mendes percorre o Brasil, participando de seminários, palestras e congressos onde denuncia a ação predatória contra a floresta e as violências dos fazendeiros contra os trabalhadores da região.

Após a desapropriação do Seringal Cachoeira, em Xapuri, propriedade de Darly Alves da Silva, agravam-se as ameaças de morte contra Chico Mendes que por várias vezes denuncia publicamente os nomes de seus prováveis responsáveis. Deixa claro às autoridades policiais e governamentais que corre risco de perder a vida e que necessita de garantias. No 3º Congresso Nacional da CUT, volta a denunciar sua situação, similar à de vários outros líderes de trabalhadores rurais em todo o país. Atribui a responsabilidade pela violência à UDR. A tese que apresenta em nome do Sindicato de Xapuri, Em Defesa dos Povos da Floresta, é aprovada por aclamação pelos quase seis mil delegados presentes. Ao término do Congresso, Mendes é eleito suplente da direção nacional da CUT. Assumiria também a presidência do Conselho Nacional dos Seringueiros a partir do 2º Encontro Nacional da categoria, marcado para março de 1989, porém não sobreviveu até aquela data.

Em 22 de dezembro de 1988, exatamente uma semana após completar 44 anos, Chico Mendes foi assassinado com tiros de escopeta no peito na porta dos fundos de sua casa, quando saía de casa para tomar banho. Chico anunciou que seria morto em função de sua intensa luta pela preservação da Amazônia, e buscou proteção, mas as autoridades e a imprensa não deram atenção. Casado com Ilzamar Mendes (2ª esposa), deixou dois filhos, Sandino e Elenira, na época com dois e quatro anos de idade, respectivamente. Em 1992 foi reconhecida através de exames de DNA uma terceira filha.

Após o assassinato de Chico Mendes mais de trinta entidades sindicalistas, religiosas, políticas, de direitos humanos e ambientalistas se juntaram para formar o "Comitê Chico Mendes". Eles exigiam providencias e através de articulação nacional e internacional pressionaram os órgãos oficiais para que o crime fosse punido. Em dezembro de 1990, a justiça brasileira condenou os fazendeiros Darly Alves da Silva e Darcy Alves Ferreira, responsáveis por sua morte, a 19 anos de prisão. Darly fugiu em fevereiro de 1993 e escondeu-se num assentamento do INCRA, no interior do Pará, chegando mesmo a obter financiamento público do Banco da Amazônia sob falsa identidade. Só foi recapturado em junho de 1996. A falsidade ideológica rendeu-lhe uma segunda condenação: mais dois anos e 8 meses de prisão.

fica mais fácil conseguir a construção de escolas e postos de saúde.
Em 1989, o Grupo Tortura Nunca Mais, uma ONG brasileira de direitos humanos, criou o prêmio Medalha Chico Mendes de Resistência, uma homenagem não só ao próprio Chico Mendes, mas também a todas as pessoas ou grupos que - segundo a entidade - lutam pelos direitos humanos. O prêmio é entregue todos os anos e personalidades como Dom Paulo Evaristo Arns, Jaime Wright, Luísa Erundina, Hélio Bicudo, Paulo Freire, Barbosa Lima Sobrinho, Herbert de Sousa, Alceu Amoroso Lima, Luís Fernando Veríssimo, Zuzu Angel, Oscar Niemeyer, Brad Will e organizações como a Human Rights Watch, Anistia Internacional, Ordem dos Advogados do Brasil (OAB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Centro de Mídia Independente(CMI) e a Comissão de Justiça e Paz de São Paulo já receberam a homenagem.
Em 10 de dezembro de 2008, a Comissão de Anistia do Ministério da Justiça aprovou, em Rio Branco, no Acre, a condição de anistiado político post-mortem de Chico Mendes. O pedido de anistia havia sido protocolado pela viúva Ilzamar Mendes em 2005.
Elenira, filha de Chico Mendes, criou uma ONG chamada Instituto Chico Mendes, para projetos sociais e ambientais. Em 2009, o Ministério Público do Acre propôs uma ação de improbidade administrativa contra ela e sua mãe, Ilzamar, viúva de Chico Mendes, por desvio de verbas recebidas do governo do Acre, que em três anos totalizaram 685 mil, sendo que Ilzamar foi acusada pela própria irmã de ser funcionária fantasma da ONG.[5]
Em 2007 foi criado o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade - ICMBio, autarquia federal responsável pela gestão das unidades de conservação federais no Brasil.
(Fonte: wikipedia)

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Os Mártires Jesuítas da UCA

Mártires em El Salvador: uma memória que continua forte 20 anos depois

Evento no IHU irá rememorar o brutal assassinato de seis jesuítas, a funcionária de sua residência e sua filha de 15 anos, com exibição de debate entre Jon Sobrino, Noam Chomsky e o jesuíta J. Donald Monan
Vinte anos não foram suficientes para apagar da memória o terrível assassinato de seis padres jesuítas, a funcionária de sua residência e sua filha de 15 anos, no dia 16 de novembro de 1989, no jardim da comunidade jesuíta da Universidade Centro-Americana José Simeón Cañas (UCA), em El Salvador.
Na madrugada daquela quinta-feira, Ignacio Ellacuría,  reitor da UCA; o vice-reitor, Ignacio Martín-Baró;  o diretor do Instituto de Direitos Humanos da UCA, Segundo Montes; o diretor da biblioteca de teologia, Juan Ramón Moreno; o professor de teologia Amando López; o fundador da universidade, Joaquín López y López, todos jesuítas; a funcionária Elba Ramos e sua filha Celina  foram fuzilados a sangue frio no campus da UCA.
Paramilitares do Exército salvadorenho invadiram a residência dos jesuítas deliberadamente para matar àqueles que incomodavam a ditadura, no rastro do assassinato de outro jesuíta, Pe. Rutilio Grande, amigo próximo de Dom Óscar Arnulfo Romero,  arcebispo da capital, San Salvador, que também foi fuzilado enquanto celebrava a missa.
Para reforçar essa lembrança e celebrar a importância desse martírio para o contexto latino-americano, o Instituto Humanitas Unisinos - IHU irá exibir o debate "Memory and Its Strength: The Martyrs of El Salvador" [A memória e sua força: Os mártires de El Salvador], que irá ocorrer no Boston College, nos Estados Unidos, no dia 30 de novembro. Nesse encontro, o filósofo norte-americano Noam Chomsky e o jesuíta, teólogo e co-fundador da UCA, Jon Sobrino – que, no dia do massacre, estava fora de El Salvador –, irão debater sobre a importância dessa memória, mediados pelo jesuíta e reitor emérito do Boston College, J. Donald Monan.
A exibição no IHU, traduzida ao português, irá ocorrer no dia 10 de dezembro, Dia Internacional dos Direitos Humanos, em um evento que está sendo especialmente preparado para lembrar o aniversário do martírio dos jesuítas de El Salvador. Nessa data, como homenagem póstuma da Unisinos, a atual sala de eventos do IHU – 1G119 – será reinaugurada como Sala Ignacio Ellacuría e Companheiros.
O debate do Boston College irá rememorar o significado do martírio dos jesuítas da UCA não apenas em palavras, mas também por meio do histórico, da trajetória e da relação de cada um dos convidados com os fatos ocorridos em El Salvador.
Nas palavras do próprio Jon Sobrino, em artigo publicado pelo sítio do IHU,  "o que me interessa recordar e reforçar é que, em El Salvador, existiu uma tradição magnífica: a entrega e o amor aos pobres, o enfrentamento aos opressores, a firmeza no conflito, a esperança e a utopia que passavam de mão em mão". Nessa tradição, segundo o teólogo, "resplandecia o Jesus do evangelho e o mistério de seu Deus". "Não podemos dilapidar essa herança e devemos fazer com que ela chegue aos jovens", afirma Sobrino.
Os debatedores
Jon Sobrino é padre jesuíta e morava na mesma residência dos seis jesuítas assassinados. Por coincidência ou providência, ele estava fora do país naquele 16 de novembro. Sobrino é um dos grandes teólogos da Teologia da Libertação, doutor em teologia pela Hochschule Sankt Georgen de Frankfurt, Alemanha, tendo recebido sua formação teológica no contexto do espírito do Concílio Vaticano II e da II Conferência Geral do Conselho Episcopal Latino-Americano, em Medellín, em 1968. É doutor honoris causa pela Universidade de Louvain, na Bélgica, e pela Universidade de Santa Clara, na Califórnia. Atualmente, divide seu tempo como professor de Teologia da Universidade Centro-Americana, responsável pelo Centro de Pastoral Dom Oscar Romero, diretor da Revista Latinoamericana de Teologia, além de ser membro do comitê editorial da Revista Internacional de Teologia Concilium. É autor de "Jesus Cristo libertador: Leitura histórica-teológica de Jesus de Nazaré" (Vozes, 1994) e "A fé em Jesus Cristo. Ensaio desde as vítimas" (Vozes, 2001).
Noam Chomsky é conhecido como um dos pais da linguística moderna. É professor emérito de linguística e filosofia do Massachusetts Institute of Technology (MIT), nos EUA. Paralelamente à pesquisa acadêmica, tornou-se ativista político de grande popularidade em todo o mundo por suas posições de esquerda e suas críticas à política externa dos EUA. É membro da Academia Americana de Artes e Ciências e da Academia Nacional de Ciência dos EUA. Publicou mais de 70 obras, entre elas: "Estados fracassados" (Bertrand Brasil, 2009), "11 de setembro" (Bertrand Brasil, 2003) e "Poder e terrorismo" (Record, 2005).
Já o moderador do debate, o padre jesuíta J. Donald Monan, era reitor do Boston College em 1989, o ano do martírio, e fazia parte do grupo de jesuítas que visitou o local logo após as mortes terem ocorrido. Ele trabalhou incansavelmente para formar uma rede de jesuítas para impulsionar as investigações, e para que o Congresso dos EUA pressionasse o governo salvadorenho a julgar os assassinos. Desde 1996, é reitor emérito do Boston College e, antes, havia sido reitor da mesma universidade durante 24 anos, desde 1972, a mais longa presidência da história da instituição. É doutor em filosofia pela Universidade de Louvain, na Bélgica, e ex-presidente da Associação Nacional de Faculdades e Universidades Independentes dos EUA. Também atuou como diretor do Bank of Boston (1976-96) e como presidente interino da Association of Jesuit Colleges and Universities (1996-97). É membro da Associação Filosófica Jesuíta e da Sociedade de Fenomenologia e Filosofia Existencial, ambas dos EUA.
Memória
No dia 16 de novembro de 1989, seis jesuítas, a funcionária da residência e sua filha adolescente foram mortos por soldados do batalhão paramilitar Atlacatl, que deixaram as paredes pintadas para atribuir os crimes à Frente Farabundo Martí para a Libertação Nacional (FMLN). O crime gerou uma grande onda de revolta, especialmente nos EUA, após a descoberta de que alguns dos soldados envolvidos haviam sido treinados pela Escola das Américas, um centro de treinamento militar para tropas latino-americanas em Fort Benning, Georgia.
O julgamento dos assassinos, ocorrido em 1990, condenou apenas dois dos 14 militares culpados. Segundo o jornal El País, o restante continua em liberdade, e são hoje empresários ou aposentados que desfrutam aposentadorias e cargos nos gabinetes governamentais. O jornal espanhol indica ainda que, entre 1980 e 1992, a repressão militar assassinou 75 mil pessoas em El Salvador, deixando sete mil desaparecidos e centenas de milhares de órfãos, viúvas ou desabrigados.
"Os mártires da UCA estavam comprometidos com a libertação e com uma universidade orientada para a mudança social. A docência, a pesquisa e a projeção social da universidade deveriam estar orientadas para conhecer rigorosamente e com profundidade a realidade nacional e internacional, com a finalidade de construir um saber crítico e criativo que incidisse na marcha histórica dos nossos países num sentido libertador", afirma Héctor Samour, coordenador do doutorado em filosofia ibero-americana da UCA, em entrevista ao sítio do IHU .
Para Samour, a totalidade da vida e do pensamento dos jesuítas assassinados havia adquirido uma tríplice característica de inteligência, compaixão e serviço. "Neles, a libertação não foi um mero tema externo ao seu trabalho intelectual, ao redor do qual construíam argumentos para fundamentar sua necessidade e sua bondade, mas ela se constituía em algo que tinha muito a ver com a própria vida deles como intelectuais; foi algo que assumiram como um princípio constitutivo da sua própria existência".
Libertação, nas palavras do próprio Ellacuría, um dos jesuítas assassinados e então reitor da UCA, daquilo que pode ser considerado "como opressão injusta da plenitude e da dignidade humana, libertação de toda forma de injustiça, libertação da fome, da doença, da ignorância, do desamparo, libertação das necessidades falsas, impostas por uma sociedade de consumo".
Por isso, eles optaram por viver em um mundo de oprimidos e se localizaram conscientemente no lugar da realidade histórica onde havia opressão, no lugar das vítimas despojadas de toda figura humana. "E foi aí onde entregaram sua vida que lhes foi violentamente arrebatada", afirma o filósofo.
Homenagens
Com a exibição do debate, o IHU soma-se a uma ampla agenda de homenagens aos mártires salvadorenhos em todo o mundo. Na própria UCA, em El Salvador, um grande calendário de atividades está sendo realizado neste mês de novembro. São 16 dias de programação especialmente dedicada aos mártires.
Os eventos começaram ainda no dia 03 de novembro, com uma homenagem a Ignacio Martín-Baró,  pela passagem do seu 68º aniversário de vida. O jesuíta também será lembrado no dia 12 de novembro, no "Fórum Internacional Ignacio Martín-Baró: Psicologia da libertação, 20 anos depois".
Já no dia 10 de novembro, ocorre o "XXIV Fórum da Realidade Sócio-Política 'Segundo Montes': Pensar as migrações hoje, uma homenagem a Segundo Montes e seu legado".
As questões judiciais envolvendo o caso dos jesuítas também serão lembradas no sábado, 14 de novembro, com a conferência de Almudena Bernabeu, a advogada que apresentou o caso na Espanha. No mesmo dia, ocorre uma vigília com procissão de velas pela cidade.
No domingo, dia 15, será celebrada uma grande missa na catedral de San Salvador em comemoração aos mártires, diante do túmulo de Dom Óscar Arnulfo Romero, arcebispo da capital assassinado em 1980. No dia 16, será celebrada outra missa com a comunidade acadêmica, no campus da UCA.
No dia 18, a conferência "O papel dos mártires da UCA na transição democrática salvadorenha e as debilidades das democracias centro-americanas" irá reunir Gilles Bataillon, diretor de estudos da Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais, da França, e Danilo Miranda Baires, professor do Instituto Centro-Americano de Ciências da Saúde, da UCA.
E, no dia 28, encerrando a programação, o jesuíta e companheiro dos mártires Jon Sobrino irá ministrar a grande conferência "O que os mártires nos pedem hoje", na capela da UCA.
O governo salvadorenho, após muitos anos de silêncio e dissimulação, decidiu somar-se às homenagens do mundo inteiro. No dia 03 de novembro, o presidente de El Salvador, Mauricio Funes, afirmou que irá conceder o mais alto grau de honra do país aos seis jesuítas assassinados pelo exército salvadorenho em 1989. Apesar de não incluir as duas mulheres assassinadas, Funes afirmou que a entrega da Ordem Nacional José Matias Delgado será um "ato público de desagravo" pelos erros dos governos passados. A homenagem será feita, segundo a presidência, em razão dos "serviços extraordinários prestados pelos jesuítas ao país, nas áreas de educação, direitos humanos, sua contribuição ao combate à pobreza, exclusão social, iniquidade, e suas contribuições à paz e à construção da democracia" em El Salvador.
Há algumas semanas, a Câmara de Representantes dos EUA  também aprovou uma resolução para honrar a vida dos mártires da UCA. Segundo o jornal El País, a resolução, apresentada pelo deputado democrata James McGovern e outros 33 parlamentares, "recorda e comemora as vidas e o trabalho" dos mártires, e reconhece que "as pessoas assassinadas dedicaram a sua vida para atender e aliviar as desigualdades sociais e econômicas de El Salvador".





segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Paixão Pela Missão!

   Pe Ezequiel Ramin 
Padre Ezequiel foi um servo de Deus, missionário, consagrado sacerdote, pertencente à Congregação dos Missionários Combonianos. Nascido em Pádua, Itália, aos 09 de fevereiro de 1953, em uma família simples e religiosa, e ordenado sacerdote em 29 de setembro de 1980. Em 01 de setembro de 1983, foi destinado a terras brasileiras, para morar em Cacoal, Rondônia, Diocese de Ji-Paraná.
Como diz o canto: “muito tempo não dura a verdade, nessas margens estreitas demais…” (Ir Cecília), e semelhante ao que aconteceu com o próprio Jesus, assim também aconteceu com o Padre Ezequiel. Em tão pouco tempo de missão, sua presença incomodou tanto, a ponto de os ricos tramarem sua morte. E aos 24 de julho de 1985, quando em missão de paz em favor dos indígenas e posseiros, seu caminho foi interrompido pela maldade dos donos do poder. O Padre Ezequiel fez sua entrega plena ao Pai, juntando-se à multidão dos que alvejaram suas vestes com o sangue do Cordeiro (Ap 7, 14).
Por quais motivos mataram o Padre Ezequiel?
Certamente pelos mesmos motivos que mataram o Filho de Deus e, bem como, daí para cá, tantos homens e mulheres que vêm sendo tombados desde a origem da Igreja. O motivo é sempre o anúncio do Reino que consiste na justiça e no bem comum. Podemos afirmar que nossa Igreja nasceu com a perseguição, e por muito tempo foi fecundada com o sangue do martírio. Pois só é possível saber qual a verdadeira Igreja e se somos verdadeiramente Igreja, quando somos perseguidos e mortos pelo Evangelho e pela defesa dos pobres.




Pe João Bosco Penido Burnier Sj

João Bosco Burnier nasceu em Juiz de Fora no dia onze de junho de 1917 e no dia sete de abril de 1928 deixou os pais Henrique e Maria Cândida Penido Burnier e os sete irmãos para ser padre na diocese do Rio de Janeiro. Quando estudava em Roma decidiu ser jesuíta. Entrou na Companhia de Jesus em 1936, sendo ordenado sacerdote em Roma, no dia 27 de julho de 1946. Em 1948, tornou-se secretário do Padre Geral da Companhia de Jesus para a Assistência da América Latina. Depois da bomba de Irochima e Nagazaki pediu para ser missionário no Japão. No entanto, foi enviado para ser Superior da Residência de Anchieta, no Espírito Santo, e Provincial da Vice Província Goiano-Mineira entre 1954 e 1958. Exerceu importantes serviços na Educação: foi Mestre de Noviços e Diretor espiritual dos juniores entre 1959 e 1965.
Para evocar a figura de Burnier, voltemos aos anos sessenta, com o início da ditadura militar no Brasil cuja ideologia desenvolvimentista consistia em integrar para não entregar. Os Xavante, habitantes tradicionais da região em questão, desde os anos 40 vinham sendo perseguidos e eram temidos porque reagiam à invasão do seu território pelas frentes de expansão coloniais. As Companhias colonizadoras recebiam as terras do Governo para vendê-las. Com as guerras e as doenças foram sendo vencidos aos poucos, resolveram associar-se à Missão dos salesianos para sobreviverem. Para atender às frentes colonizadoras foi aberta a estrada de Barra do Garças para São Félix do Araguaia.
A produção de arroz deu muito lucro para os produtores rurais, na época inicial da colonização da região. Para o vale do Araguaia foram atraídos também muitos pobres sem emprego, pessoas que tinham perdido seu pedaço de terra para grandes especuladores. Muitos sem-terra passam a ocupar a região como posseiros.
O tempo de graça das mudanças na maneira de trabalhar com os povos indígenas estava fervilhando quando Burnier chegou à Missão jesuítica, com sede em Diamantino. O clima de igreja perseguida na América Latina e as reuniões quentes que eram feitas entre os missionários, o fizeram mudar seu modo de pensar a Missão. Teve que aprender a participar das discussões como um igual e a reconhecer seus erros para deixar-se desafiar. Nas reuniões tensas, ou situações sem solução imediata, dizia: “leve... na esportiva!”
Um destacamento de polícia foi estabelecido em Ribeirão Bonito, junto de Ribeirão Cascalheira, em 1973, para pressionar, intimidar os agricultores pobres que entravam em choque com os grandes fazendeiros na luta para adquirir um pedaço de terra. Os pequenos produtores rurais dali escreveram ao presidente do Brasil, Ernesto Gaizel, protestando que a polícia só estava a serviço dos fazendeiros, maltratava e torturava os pequenos agricultores e os peões. À época, a Igreja de São Félix do Araguaia tinha voz profética com Dom Pedro Casaldáliga, que alcançava grande representatividade na defesa dos Direitos Humanos.
No início dos anos 70, a Igreja criou o Conselho Indigenista Missionário (CIMI) ligado à Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para articular os trabalhos com os indígenas.
Através da coordenação do regional do CIMI-MT, João Bosco Burnier foi à Prelazia de São Félix participar de um encontro de pastoral indigenista em Santa Terezinha. Visitou a aldeia Tapirapé, plantou uma mangueira em S. Felix e voltou com Dom Pedro Casaldáliga até Ribeirão Bonito (hoje Ribeirão Cascalheira) para participar e celebrar a festa de Nossa Senhora Aparecida.
Porém, o tempo não estava para festa. Um clima de terror pairava no local. Num confronto com a polícia militar os “posseiros” haviam reagido à onda de terrorismo e mataram o cabo Felix, conhecido na região por suas “arbitrariedades e até crimes”. Os policiais atribuíam a Jovino Barbosa e seus filhos a morte do cabo Félix. Como os suspeitos estavam foragidos, para localizá-los, os policiais carregaram para a delegacia a mulher de Jovino chamada Margarida e sua nora Santana e as torturavam barbaramente de várias maneiras com tapas, pitoco de cigarro e agulhas. Vários policiais violaram Santana, queimaram sua roça, sua casa e todo o arroz do depósito.
O Padre João rezou e cantou com o povo na procissão de Nossa Senhora Aparecida para a bênção da água do batismo. Ouvia-se da delegacia muitos gritos e súplicas: “Não me batam”. Depois da procissão Dom Pedro e o Padre Burnier foram à delegacia interceder por ambas: “impotentes e sob torturas – um dia sem comer e beber, de joelhos, braços abertos, agulhas na garganta, abaixo das unhas – uma repressão desumana” (Dom Pedro Casaldáliga). Pediram que soltassem as mulheres inocentes, mas os soldados os insultaram e disseram que lugar de padre é na sacristia. Sem resultados, o Padre Burnier disse que estava indo para Cuiabá e denunciaria os abusos. Ao ouvir isso o policial Ezy Ramalho Feitosa se adiantou e deu-lhe uma bofetada, um golpe com a coronha no rosto e o tiro fatal.
Eu me apresentei como Bispo de São Félix, dando a mão aos policiais. O Padre. João Bosco também se apresentou. E tiveram aquele diálogo, de talvez três ou cinco minutos. Sereno, de nossa parte; com insultos e ameaças, até de morte, da parte deles. Quando o Padre João Bosco disse aos policiais que denunciaria aos superiores dos mesmos as arbitrariedades que vinham praticando, o soldado Ezi Ramalho Feitosa pulou até ele dando-lhe uma bofetada fortíssima no rosto. Inutilmente tentei cortar aí o impossível diálogo: João Bosco, vamos... Em seguida descarregou também no rosto do Padre um golpe de revólver e, num segundo gesto fulminante, o tiro fatal, no crânio” (Dom Pedro Casaldáliga).
O Padre caiu mortalmente ferido, vítima da caridade, sem reagir diante de tamanha violência. Dom Pedro lhe deu a Unção dos Enfermos, enquanto o Padre Burnier rezava, invocando várias vezes o nome de Jesus. Viu que sua hora havia chegado, ainda consciente, disse a Dom Pedro: “ofereço a minha vida pelos índios e este povo sertanejo”. Recordou de Nossa Senhora Aparecida e pronunciou suas últimas palavras: “Dom Pedro, terminamos a nossa tarefa!”.
Não houve processo criminal contra o assassino, não foi preso nem julgado, porque se tratava de uma vítima do sistema de violência institucionalizada pela própria instituição militar na ditadura de Estado, o que gerava a pretensão de domínio absoluto sobre as pessoas e a subserviência da população. Todo o povo ficou com o coração pasmo. Os homens do lugar tomaram coragem e foram ver o padre no ambulatório, mas as mulheres ficaram rezando na igreja e em casa. Diziam: Se fosse um de nós... não seria estranho, acontece todos os dias. Porém um padre! Estes policiais perderam o sentido!
Sem recursos para atender o Padre agonizante no local, Dom Pedro chamou por socorro e as lideranças da Igreja local foram atrás de um táxi aéreo. Para Dom Pedro Casaldáliga, aquela foi uma via-sacra de Redenção pelos caminhos da Amazônia, pelas terras dos índios, dos trabalhadores rurais, dos empregados das fazendas. Chegaram em Goiânia, porém o Padre Burnier se encontrava em agonia de morte.
No terceiro dia, a celebração foi iniciada com este comentário: “que o sangue derramado pelo Padre João Bosco nos comprometa na caminhada”. Nosso mártir nos deixou no dia 12 de outubro de 1976 para estar junto do Pai. Foi enterrado como semente no dia 15, em Diamantino. Dom Pedro observou: Deus pôs um sinal no céu: o arco-íris, sinal da glória desta hora. No terceiro dia, na Missa em Ribeirão Bonito, foi feito o comentário: que o sangue derramado pelo Padre João Bosco Burnier nos comprometa no caminho.
“Uma lápide erigida pela comunidade Nossa Senhora Aparecida expressa a fé do povo: Irmãos, aqui em nosso lugar, a paixão e morte de Cristo se fez presente e se renovou no Padre João... Como também aconteceu com Jesus Cristo, o Padre João morreu porque defendia a verdade, a justiça, a liberdade. Era um espinho nos pés dos poderosos e opressores. Por isso usaram da força para fazê-lo calar: o assassinaram. Porém a morte não é o fim. A morte é um passo para a vida. E esta morte nos faz recordar...”
Ao sétimo dia, em romaria com velas acesas, foi levada uma grande cruz ao lugar do assassinato e ali foi levantada, com a participação de toda população. Uma placa de madeira, onde estava escrito com ferro incandescente o acontecido: No dia 11 de outubro de 1976, neste lugar de Ribeirão Bonito, MT, foi assassinado o Padre JOÃO BOSCO PENIDO BURNIER, por defender a Liberdade do Povo.
Naquele dia, um dos participantes afirmou: Essa prisão da delegacia só serviu para deter e humilhar os pobres, peões e pequenos produtores rurais. Nunca se viu um rico nela. Outro acrescentou: A cruz representa a nossa libertação; essa cadeia representa a perseguição, a tortura, o assassinato e tudo o que nos aterroriza.
As pessoas estavam indignadas com o que aconteceu e foram se juntando. Essa união levou à realização de um gesto profético: Arrancaram as portas e grades da cadeia, para que ninguém mais ficasse preso e judiado injustamente. O povo todo participou... Quem não podia participar diretamente, batia palmas e davam gritos de encorajamento. O povo resolveu abrir as portas da prisão... e colocaram abaixo a delegacia de polícia. A enfermeira que atendeu o Padre João testemunhou: Com o martírio do Padre Burnier para libertar as duas mulheres presas, libertou o povo da prisão do medo. O povo que tinha medo de sair de casa saiu às ruas e, numa ação coletiva, destruiu a cadeia.
Quiseram construir uma igreja no lugar da prisão, porém a Polícia Federal ficou de plantão para amedrontar e impedir que se construísse a igreja no lugar da prisão. Arrancaram a placa de madeira que rememorava o acontecido junto à cruz. O povo colocou outra de ferro. Porém, a polícia acabou por arrancar também a cruz. A memória do povo era demasiada subversiva para um Estado autoritário em mãos dos militares. Infelizmente este não foi um caso isolado com os militares no Governo do Brasil. A causa verdadeira dessa violência tem raízes num sistema de falta de respeito à pessoa humana. Ali surge a tortura e a opressão dos pobres: dos povos indígenas, dos pequenos agricultores e trabalhadores do campo e da cidade e de quantos se solidarizam com eles. Este martírio tem sido cimento na construção de um mundo novo na justiça e na caridade.
João Bosco Burnier tinha uma disposição interior de atender a todas as pessoas. Seu esforço de pesquisa em teologia e filosofia na formação básica continuava agora nas áreas de história, linguística e antropologia, isso para melhor responder à Missão com os povos indígenas. Era um homem de princípios e não ficava em cima do muro, discernia e decidia com firmeza. Burnier era um homem reservado nas experiências pessoais, mas humilde e pobre. Tomava as conduções mais baratas, sabia esperar carona na estrada e descansar ao relento. Às vezes engatava uma viagem na outra para dar conta dos trabalhos e fazia parte da coordenação do Regional do CIMI Mato Grosso quando foi martirizado.
Em 2001 o lema da Romaria dos Mártires da Caminhada foi “Vidas pelo Reino”. Saponaghi queria entrar em comunhão com os Bakairi, esforçou-se para aprender sua língua, os acompanhava na roça, nos banhos de rios, nas celebrações e nas festas. Recordam com carinho deste missionário, especialmente nas aldeias Pakuera e Sant’Ana, pois sua chegada era motivo de alegria e esperança para todos.

Foto retirada do livro do Padre Maia a respeito do Padre João Bosco Burnier, da Editora Loyola.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

Rezemos Irmãos e Irmãs por todos aqueles e aquelas que entregaram suas vidas por amor aos pobres e marginalizados deste mundo!!!

Doar a vida é como Jesus Cristo nos pede "Amar o próximo como a si mesmo" Este video mostra algumas pessoas que doaram suas vidas até a morte na luta pela dignidade humana, igualdade social e contra as injustiças cometidas por uma minoria. Minoria essa que vive com uma ganância mortal, rezemos por estes que promovem essas desigualdades para que se cumpra na vida deles a vontade de DEUS PAI. Iremos postar a vida de cada um(a) que neste video é mostrado para que todos possam ter o conhecimento dessas vidas marcadas por muita luta e doação plena por aqueles que tanto necessitam.

quinta-feira, 21 de julho de 2011

Padre Alfredinho

Frédy Kunz, o pe. Alfredinho, nasceu em 9 de fevereiro de 1920 e faleceu em 12 de agosto de 2000.
É conhecido como o “missionário” do Servo Sofredor e o companheiro dos pobres. A Irmandade do Servo Sofredor que ele mesmo fundou e com a qual se identificou resume todo o itinerário espiritual de sua vida.
Da Silva (Convergência, 2000), autor em que nos inspiramos, escreveu que “a grande contribuição de Alfredinho não é outra senão chamar nossa atenção para os pobres, os sofredores, mostrar que o lugar deles é o coração mesmo do Evangelho, que o seguimento de Jesus é inseparável do serviço aos Pobres, e que só a partir dos últimos da sociedade é que se pode incluir e amar a todos” (p.636). Alfredinho convida-nos a centrar o nosso olhar não tanto sobre sua pessoa, miúda e silenciosa, mas na “doce Trindade” que acolhe e vivifica a vida dos pobres. “Os Sofredores, associados à Paixão do Senhor e à cruz do Calvário são a fonte inspiradora de sua espiritualidade”. Ele dizia: “Os pobres são os meus mestres”. Deixou-se evangelizar pelos pobres que vivem o Evangelho, às vezes sem sabê-lo.

“Há criaturas como a cana:
mesmo postas no moenda,
esmagadas de todo,
reduzidas a bagaço,
só sabem dar doçura”
Dom Hélder Câmara
Alfredinho tinha um pé no chão cotidiano dos excluídos e o outro nas fontes da Sagradas Escritura, sobretudo nos cânticos do Servo Sofredor de Isaías e em Jesus, identificado como os “sem esperança” e os rejeitados. Em alguns escritos e em suas pregações, costumava comentar a figura do Servo Sofredor e a praticar o caminho do aniquilamento e da esperança.
Frédy nasceu na Suíça e, desde os primeiros anos, integrou-se à escola da Juventude Operária Católica (JOC), sendo ele mesmo um operário. A Segunda Guerra Mundial e o fato de ter sido prisioneiro do exército alemão revelaram-lhe que toda guerra e violência são uma brutalidade e um horror. Os membros da Irmandade que fundou carregam, ainda hoje, um pedaço de tecido e o número de identificação de Maximiliano Kolbe, mártir e santo dos campos de concentração nazista.
À semelhança de Gandhi, Charles de Foucauld e Teresa de Calcutá, inspirava-se na “não violência ativa”. Trata-se de uma resistência contra qualquer tipo de opressão, até oferecer a própria vida por amor aos pobres.
Chegou ao Brasil em 1968 e fez sua opção radical pelos pobres em Crateús. Na dura seca do sertão de 1983, decidiu ir trabalhar na frente de emergência, falando mais com a vida que com as palavras. Carregava a enxada e o carrinho e juntava-se ao sofrimento do nordestino. Sobrevivia, como qualquer um, com um mínimo de coisas e nunca se deixou atrair pelo “demônio” do desperdício e do consumismo. Quando, mais tarde, em 1988, mudou-se para São Paulo, foi na favela Lamartine (Santo André) que arrumou um lugar para viver. No meio dos “danados da terra”, continuou sua vida de oração e de solidariedade.
“Padre Alfredinho era um homem de oração, contemplativo e um místico”. Não lhe importava o barulho das músicas e dos gritos da favela. É ali que, com o Cristo pobre, passava, no incógnito e no anonimato, o melhor de sua vida.
Em 1995, com 75 anos, Alfredinho recebeu e acolheu uma grande graça: ir morar com os sofredores de rua. E lá foi ele com os andarilhos, dormindo ao relento e fazendo-se, ainda mais, excluído com os excluídos. Ficou na rua até que a saúde permitiu, depois voltou para a favela. Morreu no silêncio e no abandono, pobre com os pobres. Foi sepultado sem pompa. Seus amigos e seus companheiros, no velório e enterro, viveram a experiência viva da Ressurreição, alegria pascal.
A Irmandade continua e os Servos Sofredores de Jesus (não de Alfredinho) vivem a alegria da pobreza e da esperança.