quinta-feira, 21 de julho de 2011

Padre Alfredinho

Frédy Kunz, o pe. Alfredinho, nasceu em 9 de fevereiro de 1920 e faleceu em 12 de agosto de 2000.
É conhecido como o “missionário” do Servo Sofredor e o companheiro dos pobres. A Irmandade do Servo Sofredor que ele mesmo fundou e com a qual se identificou resume todo o itinerário espiritual de sua vida.
Da Silva (Convergência, 2000), autor em que nos inspiramos, escreveu que “a grande contribuição de Alfredinho não é outra senão chamar nossa atenção para os pobres, os sofredores, mostrar que o lugar deles é o coração mesmo do Evangelho, que o seguimento de Jesus é inseparável do serviço aos Pobres, e que só a partir dos últimos da sociedade é que se pode incluir e amar a todos” (p.636). Alfredinho convida-nos a centrar o nosso olhar não tanto sobre sua pessoa, miúda e silenciosa, mas na “doce Trindade” que acolhe e vivifica a vida dos pobres. “Os Sofredores, associados à Paixão do Senhor e à cruz do Calvário são a fonte inspiradora de sua espiritualidade”. Ele dizia: “Os pobres são os meus mestres”. Deixou-se evangelizar pelos pobres que vivem o Evangelho, às vezes sem sabê-lo.

“Há criaturas como a cana:
mesmo postas no moenda,
esmagadas de todo,
reduzidas a bagaço,
só sabem dar doçura”
Dom Hélder Câmara
Alfredinho tinha um pé no chão cotidiano dos excluídos e o outro nas fontes da Sagradas Escritura, sobretudo nos cânticos do Servo Sofredor de Isaías e em Jesus, identificado como os “sem esperança” e os rejeitados. Em alguns escritos e em suas pregações, costumava comentar a figura do Servo Sofredor e a praticar o caminho do aniquilamento e da esperança.
Frédy nasceu na Suíça e, desde os primeiros anos, integrou-se à escola da Juventude Operária Católica (JOC), sendo ele mesmo um operário. A Segunda Guerra Mundial e o fato de ter sido prisioneiro do exército alemão revelaram-lhe que toda guerra e violência são uma brutalidade e um horror. Os membros da Irmandade que fundou carregam, ainda hoje, um pedaço de tecido e o número de identificação de Maximiliano Kolbe, mártir e santo dos campos de concentração nazista.
À semelhança de Gandhi, Charles de Foucauld e Teresa de Calcutá, inspirava-se na “não violência ativa”. Trata-se de uma resistência contra qualquer tipo de opressão, até oferecer a própria vida por amor aos pobres.
Chegou ao Brasil em 1968 e fez sua opção radical pelos pobres em Crateús. Na dura seca do sertão de 1983, decidiu ir trabalhar na frente de emergência, falando mais com a vida que com as palavras. Carregava a enxada e o carrinho e juntava-se ao sofrimento do nordestino. Sobrevivia, como qualquer um, com um mínimo de coisas e nunca se deixou atrair pelo “demônio” do desperdício e do consumismo. Quando, mais tarde, em 1988, mudou-se para São Paulo, foi na favela Lamartine (Santo André) que arrumou um lugar para viver. No meio dos “danados da terra”, continuou sua vida de oração e de solidariedade.
“Padre Alfredinho era um homem de oração, contemplativo e um místico”. Não lhe importava o barulho das músicas e dos gritos da favela. É ali que, com o Cristo pobre, passava, no incógnito e no anonimato, o melhor de sua vida.
Em 1995, com 75 anos, Alfredinho recebeu e acolheu uma grande graça: ir morar com os sofredores de rua. E lá foi ele com os andarilhos, dormindo ao relento e fazendo-se, ainda mais, excluído com os excluídos. Ficou na rua até que a saúde permitiu, depois voltou para a favela. Morreu no silêncio e no abandono, pobre com os pobres. Foi sepultado sem pompa. Seus amigos e seus companheiros, no velório e enterro, viveram a experiência viva da Ressurreição, alegria pascal.
A Irmandade continua e os Servos Sofredores de Jesus (não de Alfredinho) vivem a alegria da pobreza e da esperança.


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