domingo, 17 de julho de 2011

Lançada a 15ª Romaria da Terra do Ceará

Cartaz da 15ª Romaria da Terra do Ceará
No testemunho dos Mártires: Terra, Água e Dignidade. Com este tema a Comissão Pastoral da Terra do Ceará (CPT) lança a 15ª Romaria da Terra, que será realizada em Itapipoca, no dia 07 de agosto de 2011, sob a proteção de Nossa Senhora das Mercês.
Nesses 36 anos de história e caminhada da CPT as Romarias da Terra têm sido espaços de fortalecer a luta pela Terra, o protagonismo camponês, a religiosidade popular, as organizações campesinas, a defesa e promoção da vida dos camponeses e camponesas e do meio ambiente.
O termo Romaria da Terra é carregado de significados. Romaria é um termo especificamente religioso, que expressa a caminhada do povo de Deus para um lugar sagrado, ou seja, um Santuário. Desde os tempos da Bíblia, o povo de Deus é um povo romeiro (cf. Ex 3-18), que segue, guiado por Deus, em direção à Terra Prometida, “… uma terra fértil e espaçosa, terra onde corre leite e mel..” (Ex 3, 8). A Terra também é Santuário, lugar sagrado. Os povos indígenas e afro, os camponeses e camponesas nos ensinam concretamente como valorizar a sacralidade da Terra.
O livro do Êxodo, que significa saída, ao narrar a libertação do povo hebreu escravo no Egito, nos reporta a um outro significado muito importante da Romaria da Terra: romeiros e romeiras da Terra são aqueles homens e mulheres que lutam por sua libertação dos sistemas de opressão e pela libertação da Terra, para que esteja disponível à quem dela precisa, quer trabalhar e cuidar com responsabilidade. O povo de Deus era escravo no Egito, exilado de sua própria Terra, quando Deus chamou Moisés para libertá-lo. Romeiros e romeiras da Terra é gente simples, que vive em situação de escravidão pelo fato de estarem presos aos regimes patronais ou mesmo vivendo em favelas nas grandes cidades, sem as mínimas condições de vida digna, pelo fato de não terem a própria Terra para viverem e produzirem de acordo com seus costumes e valores.
Nesse contexto, tão antigo e tão atual, as Romarias da Terra se apresentam como espaço de resistência popular camponesa. Apesar do sofrimento, uma forte característica dos camponeses e camponesas é o seguimento firme na luta, confiante em Deus Libertador dos pobres e oprimidos. Os romeiros e romeiras que se dirigem aos Santuários tradicionais, para levar seus ex-votos e fazer seus pedidos, o fazem pela fé, na esperança de que a vida possa melhorar.
Dessa maneira, aqueles que participam das Romarias da Terra, que fazem o mesmo caminho dos romeiros e romeiras das Romarias tradicionais, seguem acreditando que Deus fortalece a luta pela Terra e os conduzirá a uma vitória final, à Terra prometida, onde corre o leite e o mel, frutos do trabalho dos camponeses e camponesas.
A Romaria da Terra também quer dar visibilidade a tantos projetos alternativos de convivência com o semiárido que estão acontecendo em nossas comunidades. O povo que vive no sertão e faz o sertão viver segue em romaria, acreditando que a conquista da Terra se faz também com a conquista de novas maneiras de viver na Terra e produzir orgânica e sustentavelmente.
Outra característica da Romaria da Terra é ser um espaço de denúncia de todas as injustiças que atingem os camponeses e camponesas. Desde o início, as Romarias da Terra tem se empenhado em denunciar toda forma de concentração da Terra, de latifúndio. A Terra é dom de Deus e deve estar a serviço de quem dela precisa para trabalhar e viver. A concentração fundiária é uma chaga para o Brasil, que segue fazendo vítimas desde a invasão estrangeira de nosso país. Nesse contexto, a CPT reafirma o seu compromisso na luta pela Reforma Agrária.
Muitas denúncias têm sido feitas nas Romarias da Terra por todo o Brasil: a especulação fundiária, o uso de agrotóxicos, os monocultivos, o agro e hidronegócios, as grandes barragens, as obras de infra-estrutura, as ameaças de morte, perseguições, prisões e assassinatos de lideranças camponesas, situações que geram inúmeros conflitos no campo, em sua grande maioria sistematizados no Caderno de Conflitos no Campo Brasil, publicado anualmente há 26 anos pela CPT.
As Romarias da Terra são uma grande festa. As equipes de CPT se empenham com todas as forças para prepará-las bem, porém, quem garante mesmo o êxito em sua realização são os camponeses e camponesas. Sem eles, as Romarias da Terra não teriam sentido. Expressam a diversidade camponesa através dos testemunhos, dos cantos, dos símbolos, da produção alternativa e orgânica, da organização, das artes, das expressões de fé e resistência.
Neste ano, a Romaria da Terra do Ceará faz memória dos Mártires da luta pela Terra. São tantos homens e mulheres, que neste chão, derramaram seu sangue, fazendo brotar sementes de resistência, libertação e vida. Como exemplo motivador, fazemos memória dos agricultores Manoel Veríssimo Neto e seus filhos Raimundo Veríssimo Mano e Francisco Carlos Veríssimo, mortos no conflito da Fazenda Jandaíra, município de Trairí, em 1986, quando o proprietário da fazenda, querendo implantar um projeto de reflorestamento, planejou expulsar as 60 famílias que ali residiam. Mártires, lutadores e lutadoras do povo de outras regiões do Estado serão lembrados desde os encontros preparatórios ao dia da Romaria.
As Romarias da Terra continuam sendo um espaço importante e necessário para fortalecer a fé e a luta camponesa. Que Jesus de Nazaré, romeiro, abençoe a todos e todas nós nesta caminhada rumo à Terra Prometida deste Ceará, do nosso Nordeste. Como diz a canção: “O Nordeste é a Terra prometida aos nordestinos”. Vamos à Itapipoca, fortalecidos e motivados pelo Testemunho dos Mártires, comprometidos na luta por Terra, Água e Dignidade.
Thiago Valentim, CPT CE

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